quarta-feira, 14 de abril de 2010

Coração de Estudante

Olá,

Acabo de falar com minha filhota pelo telefone, por uns bons 30 minutos, tentando explicar para ela uns malabarismos matemáticos de como obter um número composto a partir de uma fração imprópria. É sempre uma experiência interessante porque ela tá aprendendo todas essas expressões e nomenclaturas em inglês e eu tenho que fazer "tradução simultânea mental" enquanto estou explicando. Fração imprópria em inglês é "improper fraction" e números compostos são chamados "mixed numbers". Então até eu conseguir me posicionar mentalmente sobre o que ela está falando leva um pouco de tempo... Tipo assim:
Filha: Pai, preciso de sua ajuda em matemática...
Eu: Diga filhota, o que é a dúvida.
Filha: Ahn... tipo... eu preciso transform...ahn... like.... uma improper fraction... into... like... something called mixed number... você sabe como fazer?
Eu: Hum... não estou bem certo... o que é um "mixed number"?
Filha: num sei direito...
Eu: Ok, tenta me dar um exemplo...
Filha: Ok. It's like... um número followed by a fraction...
Eu: Ah! já sei o que é! Número composto! Você quer transformar uma fração imprópria em um número composto! Claro que posso ajudar!
E por aí vai. O mais curioso é que eu não lembro NADA sobre nem um nem outro. Mas isso nunca foi problema prá mim. Quer dizer, não depois da sexta série, quando eu estudei com um professor de matemática que me ensinou a gostar de matemática, mais do que simplesmente aprender sobre essa matéria. O nome dele era Flávio e ele ensinava no Colégio Batista Santos Dumont, em Fortaleza, onde estudei por três anos. Ele me ensinou, principalmente, que a matemática é tão simples que mesmo quando você não lembra uma fórmula ou uma propriedade, não tem problema. Basta você pensar um pouco e "descobrir" a solução novamente, usando um pouco de raciocínio lógico e uns poucos exemplos aplicados. Isso é especialmente verdadeiro na aritmética, álgebra e geometria, incluindo aí a trigonometria. E foi isso o que eu fiz (como eu geralmente faço quando os meninos me pedem para ajudá-los em matemática, porque em geral eu não lembro das regras/fórmulas e tenho que "re"-descobrí-las). Claro que eu não falei prá ela, para evitar que ela perdesse a confiança e dificultasse o entendimento. O que eu fiz foi começar com exemplos bem simples e concretos e, enquanto explicava prá ela os conceitos, ia relembrando/redescobrindo como resolver o problema. No final ela parece que entendeu bem o conceito e conseguiu aplicar o que aprendeu nos exercícios que ela tinha que resolver. Acertou todos, agradeceu e desligou. E me deixou pensando: Obrigado, querido professor Flávio, por ter me ensinado a pescar, ao invés de simplesmente ter me dado um peixe quando eu estava com fome. O conhecimento LIBERTA, é verdade. Mas a capacidade de PRODUZIR novo conhecimento ao invés de simplesmente absorver o que está na sua frente, mais do que LIBERDADE, te dá PODER.
Pense nisso.
E fique com Deus.
Boa noite.

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